sexta-feira, 24 de julho de 2009

Divagando...

...A maior parte das pessoas ainda prefere comprar muambas em Miami ou Pedro Juan, sonhar em frente às vitrines a saborear palavras, verdadeiramente, com gosto, como se saboreia um doce feito pela avó, com sabor de saudade, de nuvem, de alegria que a gente sabe que nunca dura pra sempre e sai, esfomeado, de novo, perambulando pela casa, procurando um restinho nos potes, nos armários, na geladeira...

Assim também é amar: a gente sai procurando nas prateleiras da vida alguma coisa com gosto do que já foi e a gente nem sabe mais o que é, mas quer, deseja, sempre com fome, com gula, mesmo sabendo que pode dar dor de barriga lá na frente. E como a gente nunca deu ouvidos à avó, à mãe, assim também é o coração apaixonado. Ele não ouve ninguém, nada além de suas batidas descompassadas, de felicidade ou angústia extrema.

Falei de tudo isso, divaguei, perdi o raciocínio pra encontrar depois, só pra dizer que o amor, esse com gosto da infância perdida, existe. Mas não se encontra em qualquer mercadinho de esquina, nem nos hipermercados, nos shoppings. A gente tromba com ele pela rua. Como lata, às vezes a gente chuta. Como moeda, às vezes a gente pega, enfia no bolso, acaba perdendo ou passa adiante. Na verdade, a gente devia sempre tratá-lo como pedrinha brilhante, talismã, que a gente recolhe, não perde, acha que dá sorte (e dá!), faz dela um tesouro.

Falei de tudo isso, só pra dizer que a felicidade romântica é leve, e inacreditavelmente é possível. Basta querer.

terça-feira, 14 de abril de 2009

All the lonely people...

(Post dedicado à minha mãe, que divide comigo tantas coisas preciosas, à minha amiga aniversariante Fátima Wolf e a todos aqueles que ainda têm a capacidade de se emocionar com belas canções)


Sempre cultivei uma profunda admiração por Eleanor Rigby, apresentada a mim por minha mãe, ainda na infância. Pra quem não conhece, é a personagem de uma das mais belas canções dos Beatles. Uma misteriosa e solitária mulher, que guarda sonhos em um jarro e acompanha todos os casamentos de sua cidade, jogando arroz e desejando felicidade aos noivos, sem ao menos conhecê-los. Quando morre, ninguém comparece ao seu enterro.
Lennon e Mc Cartney souberam, como ninguém, falar do vazio existencial, da Eleanor Rigby que guardamos dentro de nós, mesmo quando estamos em família, no meio de um show ou balada ou, ainda, na praia, num domingo qualquer de sol.
O trecho mais tocante da música é, na verdade, um questionamento: “All the lonely people, where do they all come from? All the lonely people, where do they all belong?” (Todas as pessoas solitárias, de onde todas elas vêm? Todas as pessoas solitárias, de onde todas elas são?).
Pois Eleanor ressurgiu-me com toda a força, hoje, pela manhã, em frente ao pc, na imagem e na voz de Susan Boyles, candidata do Britain's Got Talent (um misto de Show de Calouros com American Idol). Uma senhorinha britânica, de 47 anos, que subiu ao palco para cantar "I Dreamed a Dream", do musical Os Miseráveis. (Veja o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=RxPZh4AnWyk)
Uma mulher que tem como única companhia Pebbles, seu gato. Que nunca se casou, nunca foi beijada. A caçula de nove irmãos, que nasceu de um parto complicado, que lhe deixou como sequela a dificuldade de aprendizado e um jeitinho desajeitado, que somados à aparência, foram motivos de chacota durante toda uma vida, até o dia de sua aparição na TV.
Desacreditada pelos jurados, que antecipavam um momento de vergonha alheia, Susan colocou ali, no palco, mais do que sua voz para fora: colocou seu coração, toda a beleza que o mundo jamais poderia ver de outra maneira.
E emocionou pessoas ao redor do mundo. Seu vídeo no You Tube já ultrapassou os 3 milhões de visualizações. Susan agora é uma celebridade. E tudo o que desejava não era o prêmio de um milhão dado ao vencedor do programa, mas sim que sua mãe, falecida em 2007, tivesse um único motivo para orgulhar-se dela.
Terá Susan o mesmo destino solitário de Eleanor? Não imagino quantos serão seus minutos de fama, espero que este episódio tenha mudado para melhor seu destino. Sinto que, de alguma forma, ela respondeu à pergunta de Lennon e Mc Cartney: não sabemos de onde vêm, nem para onde vão essas pessoas solitárias. O que realmente importa é o que elas deixam ao mundo, o que não se oferece aos olhos, mas ao coração.


quinta-feira, 19 de março de 2009

O Ceifador

Odeio a morte que não permite últimas palavras.
Que se faz sem despedida, sem aviso.
Imagino as verdades que ficam caladas.
Os segredos não confessados.
A última expressão, o fechar dos olhos.
Sobram só o silêncio e as suposições.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Clariceando...

"Não me corrija. A pontuação é a respiração da frase, e a minha respira assim. E se você me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar. "

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

Clarice Lispector


E num mundo de vítimas demonizadas e anjos excomungados, periguetes cheias de pudor e santas despudoradas, franco-atiradores aborrecidos pela própria aborrescência e fenômenos resgatados da lama, resta-me o refúgio das palavras...

quinta-feira, 5 de março de 2009

Ainda bem

Ainda bem que você vive comigo
Porque senão, como seria esta vida?
Sei lá... sei lá...
Nos dias frios, em que nós estamos juntos
Nos abraçamos sobre o nosso conforto
De amar... de amar...

Se há dores, tudo fica mais fácil
Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me manda são fato
Do nosso cuidado e entrega

Meus beijos sem os seus não daria
Os dias chegariam sem paixão
Meu corpo sem o seu, uma parte
Seria o acaso, e não sorte

Entre tantos outros
Entre tanttos séculos
Que sorte a nossa, hein?

Entre tantas paixões
Esse encontro, nós dois,
Esse amor...

(Vanessa da Mata)


Porque amor-paixão que se preza não respeita horário comercial, reunião, uma pilha de coisas na mesa. Desconhece hierarquia, responsabilidade, calendário. É um desobediente, um anarquista, um sem-terra. Invade e pronto.
Basta se distrair e rola um videozinho mental dos melhores momentos, uma saudade louca, mesmo apenas 3 horas depois de nos separarmos e, principalmente, o desejo adolescente de largar tudo, virar as costas e sair correndo. Atravessar a cidade, como já atravessamos tantos quilômetros em outros tempos, nem que seja a pé ou de disco voador, só pra olhar você nos olhos e ver vida ali dentro, só pra beijar, cheirar, sentir que você está ali, em frente, ao lado, comigo. Só pra repetir, pela milionésima vez, da forma mais previsível e besta, que amo você.
E sou feliz assim.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sabedoria é isso aí!

E não será a maturidade a coragem de viver sucessivas aprendizagens que não nos podem destruir?

Nélida Piñon, em entrevista a Edla Van Steen.

Folia

Rio pouco.
Danço raramente.
Comemoro menos ainda.
Meu temperamento nada efusivo me trai em alguns momentos.

Pois cada vez que você me toca, é Carnaval dentro de mim.